Intuição, um caminho com curvas

8/2/2022

Intuição, um caminho com curvas.

Em 2019 tomamos a decisão de irmos viver para outro país, as oportunidades estavam a surgir e a indicar que o nosso caminho seria por ali. Os dois começamos o nosso processo de preparação, no meu caso implicava colocar o meu negócio totalmente online, melhorar o meu inglês e acima de tudo preparar-me emocionalmente para uma nova mudança, completamente diferente. 2019 foi focado nessa mudança, os dois sentíamos que o caminho era por ali, escolhemos a cidade, a escola onde o nosso filho iria crescer. E o nosso 2020 começou com esta sensação de novo. Duas semanas antes de tudo mudar, no dia 16 de Março entramos em quarentena. Os dois pensávamos que iria ser passageiro, que os nossos planos continuariam. Passou 1 mês e continuávamos os dois em casa, os países a fecharem fronteiras e tudo o que tínhamos planeado já não ia acontecer. As oportunidades que antes existiam já não estavam presentes.  

Senti muita raiva nas primeiras semanas de quarentena, não queria estar ali, não queria perder o controle. Felizmente continuei a trabalhar e ele também, muitas pessoas que eu acompanhava diziam-me:

“Lígia que sorte que tens, o teu negócio já está online, não tens que te adaptar!”

Nunca sabemos como a sorte do outro aconteceu, não sabemos o que está por detrás dessa sorte. A casa onde estávamos era temporária. Tínhamos que tomar decisões rápidas e permanentes, e sim no meio de uma pandemia. Não sabíamos se voltávamos para Lisboa ou se continuávamos em Sintra. Então deixamos que a vida nos encaminhasse.

E decidimos que iriamos escolher a casa e perceber onde a nossa casa estava.

Lembro-me do dia em que corri para ele e disse-lhe:

“Encontrei a nossa casa, encontrei a nossa casa!”

Ele descrente olhou para ela e disse: “É realmente interessante.”

É esta vais ver. É mesmo esta. Sinto mesmo que é esta.

Fomos ver a zona e adoramos, era mesmo ali, a nossa casa.

Chegamos tarde.

Mas aquela casa deu-nos a zona, continuamos à procura. Tínhamos pouco tempo e a casa que queríamos não aparecia. A ansiedade tomava muitas vezes conta de nós.  

Até que encontramos, era aquela, precisava de obras, mas era ela.

Chegamos tarde.

Completamente descrente e cansada disse-lhe:

“Não quero saber de mais nada, estou farta!”

Fomos mais uma vez à zona que queríamos. E tinha lá um anúncio. Ele disse:

“Olha esta!”

“Nem penses, não quero, não com estas características.”

“Mas ainda não foste ver, vai de mente aberta!”

E eu totalmente reticente, aceitei. Cansada, saturada e sem alegria.

Era a nossa casa, e desta vez chegamos a tempo. Desta vez ela era mesmo para nós!

E quando pensávamos que já estava, que agora tudo ia acalmar.

Foram mais de 3 meses de obras, em que aparecia um desafio atrás do outro. Em que os finais do dia, e fins-de-semana do homem cá de casa foram

passados na nossa casa. E eu sozinha com um bebé que tinha saudades do pai e que não percebia porque não podia estar com o pai.

A verdade é que eu também não.

Foram meses muito difíceis para nós, de solidão e frustração. Nem sempre entendemos o porquê das coisas acontecerem.

Quando acreditamos e confiamos na nossa intuição achamos que ela nos vai levar pelo caminho mais fácil, nem sempre é assim. Os potenciais que existem num momento não existem no outro. É a vida está sempre a mudar, mas não gostamos disso pois não?

No início desta pandemia enquanto pedia alguma clareza para o que estava acontecer, lembro-me de ver uma enorme rede dourada a percorrer o planeta e a tocar cada um em profundidade. Cada ser humano, cada pessoa está a passar pelo seu processo.

Hoje foi o dia em que esta foto que sempre nos acompanhou encontrou novamente o seu lugar.

Seguir a intuição nem sempre nos leva por um caminho luminoso, mas leva-nos muitas vezes aos caminhos escuros que temos dentro de nós e que precisam de luz!

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